
A Ribalta Companhia de Dança

História
A Ribalta Companhia de Dança é um coletivo de dança contemporânea sediado em Ananindeua, Pará, Brasil. Fundada em 2004, a companhia consolidou-se como um dos principais espaços de criação e pesquisa em dança da região, alcançando reconhecimento tanto no cenário regional quanto nacional.
Sua origem remonta à Casa Ribalta, fundada em 1994 por Marlene Andrade Ferreira, mãe da diretora artística da companhia, Mayrla Andrade Ferreira dos Santos. Como a mais antiga casa de dança de Ananindeua, a Casa Ribalta tornou-se um ponto de encontro para a formação artística de crianças e jovens da cidade. Dez anos depois, esse espaço germinou a Ribalta Companhia de Dança, que ampliou o alcance de sua atuação, desenvolvendo uma linguagem própria na dança contemporânea.
Ao longo de sua trajetória, a companhia construiu um repertório diversificado, atravessado por pesquisas e experimentações sobre a dança em sua contemporaneidade. Em 2012, iniciou o estudo sobre o conceito e a poética do Habitante-Criador, proposta conceitual que segue em constante transformação, desdobrando-se em novas criações e reflexões sobre corpo, território e identidade.
Hoje, a Ribalta Companhia de Dança segue como um espaço vivo de experimentação artística, expandindo possibilidades e reafirmando seu compromisso com a pesquisa em dança, a formação de artistas e a construção de uma cena contemporânea enraizada no Norte do Brasil.
Espetáculos
Intervalo - 2004
INTERVALO é a primeira proposição cênica da Ribalta companhia de dança, em formato de espetáculo. O diálogo estabelecido entre os intérpretes-criadores dá-se principalmente pelas descobertas das qualidades de movimento e a tomada decisão nas cenas diante das questões norteadoras, entre elas: Qual o lugar entre? Como me movimento nos espaço-tempo que há 'entre' inspiração, respiração e transpiração? O que interrompe os intervalos regulares?
Trata-se de uma compreensão em movimento, possibilidades de interação com o outro e o mundo implicados entre o ouvir, sentir, cheirar, tocar. Mover-se nesse "entre" mundo.
Liberta-me - 2005
Ser livre significa desprender sua própria alma das solicitações ou exigências do mundo, a liberdade é o movimento, uma ação que jamais estará totalmente realizada, completa. Nunca existira uma libertação total, porque da mesma forma nunca existira uma dominação total, haverá sempre uma margem de liberdade e haverá sempre uma margem de determinação na circunstancia.
A liberdade e uma reflexão filosófica sobre a realidade concreta, em que vivem as pessoas submetidas a diversas formas de dominação, bem como, sobre os processos voltados a transformação dessa situação. Trata-se de compreender a realidade da dominação e o processo de libertação.
A Flor do Ser - 2006
A descoberta da sexualidade é transcorrente em cada ser humano
Nesse processo natural o espetáculo a flor do ser aborda a aceitação do próprio sexo a partir do conhecimento do seu corpo, onde o prazer do seu corpo e o amor fazem ninho, proporcionando o florescer de cada ser. Como homem podem unirem em um só corpo
Verossimilhanças - 2007
É um espetáculo que busca uma verdade gestual, interna do corpo de cada intérprete, recriando memórias de imagens que já vivenciaram ou vivenciam ainda no seu cotidiano. Os interpretes em cena partilham de semelhanças, no agir, sentir, dançar, mas apenas de semelhanças e não de identidade, pois cada um possui sua identidade própria, assim verificamos o desencadeamento de gestos ao dançarem, com alguns atos aparentemente surpreendentes, mas ao mesmo tempo formas de funcionamento plenamente reconhecíveis, constatando que a semelhança é a condição da Verossimilhança.
A atuação dos bailarinos na composição coreográfica, em alguns momentos, recriam sutilezas e em outros uma miríade de inquietudes, usando gestos para descrever tudo o que lhe parece ser semelhante e por vezes estranho, ainda em descoberta, o que torna a pesquisa mais detalhada e descritiva, a semelhança de relatos corporais para descrever as diferenças.
Verossimilhanças traz para a cena um tri pensar: no que somos, a imagem que passamos e aquilo que realmente queremos ser, registrando possibilidades de existência além do receptor mais alguém interior para quem se pode ler, buscar o sentido, se questionar, uma comunicação não só externa representada na composição coreográfica, mas também uma comunicação da interioridade de cada intérprete.
Cogitatum - 2008
COGITATUM nasce de inquietações do pensar no corpo que é sentimento, é história, que atua na sociedade e é capaz de modificá-la, a partir de projeções das recordações, sensações, associações, percepções, experiências e falas dos intérpretes-criadores, por meio de um "caminhar" de corpus em liberdade.
O desvelar de cada interlocutor cênico é traduzido por uma gestualidade carregada de sentidos e sentimentos únicos, resultantes do mergulho prévio em sua própria história. Essa nova "leitura" do texto/mundo deu existência a novos horizontes, mesmo que alguns deles – os intérpretes-criadores – necessitassem, num dado momento, se confrontar com o passado.
Eu-tônus - 2009
EU-TÔNUS traz para a cena a investigação da interdependência das partes do "corpomente" dos intérpretescriadores através da observação atenta de si próprio, do funcionamento do corpo, das leis naturais que nos regem e das reações geradas pelos estímulos externos.
Dia após dia os interpretes-criadores reconhecem-se nos seus corpos e na sua pesquisa, percebendo-se como sujeito e objeto da mesma. Trata-se de um ensinamento a cuidar de si, das suas necessidades, conseguindo reconhecer os limites do seu corpo, seu volume, seu espaço interno, suas estruturas ósseas.
Cada experimentação tem levado os interpretes ao apreender a dialogar com as possibilidades do seu corpo e experimentando essa singularidade ao mesmo tempo que experiência a relação com o outro, utilizando e respeitando as suas estruturas e sua força, utilizando essas estruturas com consciência e procurando uma relação harmônica e equilibrada entre o seu corpo, o espaço e as pessoas que o rodeiam, numa intenção de integrar corpo, mente e espírito no funcionamento corporal com nossas emoções, sentimentos e pensamentos, que permanecem concentrados focalizando aquilo que observamos, o que está no "presente" e em "contato" com o eu, com o outro e com o mundo.
Vivenciar o EUTONIA faz-se necessário uma reflexão constante àuma nova estrutura, postura e atitude perante o desafio de viver. Provoca uma autonomia e consciência que nos faz crescer na sua auto-estima e na confiança em si.
Remir - 2010
Na tentativa de encontrar um não lugar onde o sentido de ser e viver permaneçam livres de olhares de expressiva vigilância e sanção, incita-se o desejo de sentir e ver a fronteiriça compaixão humana desvelada por corpos dóceis, porém violentos quando incitados, revelando uma sociedade desumana com identidades omissas.
A relação de poder nas mais diversas dimensões do humano, seja nas instituições ou nas relações familiares, imprime no corpo subjugado uma corporeidade singular pertinente ao tipo de regime empregado surge o desejo de obter a liberdade de sua individualidade no seu sentido pleno.
Os praticantes das ações de poder redimiram e redimensionaram as expectativas em reencontrarmos a inocência em compaixão, momentos raros de purificação do espírito em exercício da paz com candidez divina e acionada pelo sentir de uma criança já enterrada no percurso da vida pelos sofrimentos humanos e seus males.
Em REMIR, é lançada aos olhos uma poética que remete a essas relações algumas das vezes severas , outrora emanando a suavidade e compaixão pela impossibilidade do ser humano em suas inúmeras e possíveis tentativas em libertar-se de suas próprias prisões.
Metanóia - 2011
Metanóia traz para a cena as descobertas especiais da meia idade, "O sabor do tempo que flui".
A individuação dos intérpretes-criadores é trabalhada como possibilidades germinais de forjar um eu capaz de ter alegria, ter prazer, refletir sobre as perdas, o sofrimento, o corpo que se transforma e todas as possiveis experiências inerentes a vida.
Em metanóia apresenta-se linhas de fuga para um sair da identificação com o coletivo rumo á singularidade, subvertendo ordenações de pensamento já impregnados pelos "bons costumes" na sociedade.
Florescer - 2012
O espetáculo aprofunda-se nas origens do município, cujo surgimento está intrinsecamente ligado às margens da antiga estrada de ferro Belém-Bragança. Essa ferrovia, outrora pulsante, foi responsável por conectar territórios, aproximar pessoas e entrelaçar histórias, deixando marcas profundas no desenvolvimento local. Através de uma abordagem sensível e poética, a obra resgata fragmentos dessa memória ferroviária, trazendo à tona vivências, deslocamentos e transformações que moldaram a cidade ao longo do tempo.
Mais do que um resgate histórico, o espetáculo reafirma a potência artística e cultural da região, lançando um olhar cuidadoso sobre a historicidade de Ananindeua. Ao revisitar essas narrativas, a obra valoriza a identidade do município e destaca a importância de preservar suas histórias, ecoando as vozes que compõem o seu passado e projetam novas possibilidades para o futuro. A realização desse projeto só se tornou viável graças ao apoio da Bolsa de Pesquisa e Experimentação, concedida pelo antigo Instituto de Artes do Pará (IAP), então vinculado à Secretaria de Cultura do Estado do Pará (SECULT/PA).
Ilhas: O ritmo da vida - 2013
A proposta do espetáculo nasceu de uma imersão profunda na vida cotidiana dos moradores das ilhas de Ananindeua, onde buscamos compreender e absorver os ritmos que moldam suas existências. A investigação se deu a partir da observação sensível de suas relações com o espaço, das formas como interagem com a natureza e com os territórios que habitam, bem como das dinâmicas entre trabalho e lazer que estruturam suas rotinas.
Ao longo desse processo, percebemos que cada gesto carrega uma musicalidade própria, uma cadência que se inscreve no tempo e no corpo. Assim, por meio do movimento, buscamos traduzir não apenas as ações diárias, mas também os fluxos de energia, as pausas e os impulsos que dão sentido ao viver ribeirinho. O espetáculo, portanto, se constrói como uma tessitura coreográfica que revela, em cena, os traços dessa vida pulsante, em que tradição e contemporaneidade se entrelaçam na dança dos gestos cotidianos. A realização desse projeto só se tornou viável graças ao apoio da Bolsa de Pesquisa e Experimentação, concedida pelo antigo Instituto de Artes do Pará (IAP), então vinculado à Secretaria de Cultura do Estado do Pará (SECULT/PA).
Retratações - 2014
O espetáculo se debruçou sobre a cidade de Ananindeua, explorando suas múltiplas camadas por meio dos bairros, das feiras e das diferentes formas de perceber e experienciar a cidade em sua complexa contemporaneidade. A obra não apenas ressignificou espaços urbanos, mas também os entrelaçou aos quatro elementos da natureza – terra, água, fogo e ar – que, além de símbolos, tornaram-se forças propulsoras no processo criativo. Esses elementos foram incorporados aos corpos dos Habitantes-Criadores, inscrevendo-se como marcas cartográficas que transbordavam memória, identidade e pertencimento.
Mais do que um espetáculo, essa criação nasceu de um desejo genuíno de investigação artística e do compromisso com uma poética que emerge dos encontros e das vivências coletivas. Concebida de forma totalmente independente, sem patrocínios ou apoios institucionais, a obra se sustentou unicamente na força de vontade e na dedicação dos artistas envolvidos. Foi essa potência criativa, aliada à resiliência do grupo, que permitiu a materialização do projeto, tornando-o não apenas uma performance cênica, mas também um ato de resistência, afirmação cultural e celebração da cidade como território de criação.
Narradores do Ananin - 2015
Esse espetáculo se consolidou como uma das obras emblemáticas da Ribalta Cia de Dança, entrelaçando os fios condutores da tríade poética que caracteriza a companhia: Memória, Histórias de Vida e Territorialidade. Nessa criação, os espetáculos Florescer (2012), Ilhas (2013) e Retratações (2014) se fundiram em uma hibridização poética, dando origem a um mosaico de narrativas corporais e afetivas que reverberam as vivências e identidades enraizadas no território de Ananindeua.
A costura dramatúrgica dessa montagem permitiu não apenas a ressignificação dos trabalhos anteriores, mas também a construção de uma nova tessitura cênica, ampliando os diálogos entre corpo, espaço e pertencimento. Ao revisitar essas criações passadas sob novas perspectivas, o espetáculo fortaleceu a identidade artística da Ribalta, reafirmando sua pesquisa sobre os processos criativos ancorados no contexto amazônico e evidenciando a potência das experiências coletivas como motor de criação.
Esse projeto foi reconhecido e contemplado pelo Prêmio FUNARTE ARTES NA RUA – 2014, uma iniciativa do Ministério da Cultura do Governo Federal. Esse reconhecimento possibilitou a circulação da obra em diferentes espaços públicos, democratizando o acesso à dança e fomentando novas reflexões sobre a relação entre cidade, corpo e memória, promovendo um encontro sensível entre arte e cotidiano.
Carabao: a força que vem do oriente - 2017
Carabao: a força que vem do oriente, dirigido pelo Habitante-Criador Allan Lima, mergulhou nas narrativas de vida dos moradores de Soure, no arquipélago do Marajó, destacando a presença marcante dos búfalos na região. O espetáculo buscou dar visibilidade às histórias que envolvem a chegada desses animais à Amazônia e os processos de adaptação que consolidaram sua territorialidade no cenário marajoara.
A pesquisa revelou a relação profunda entre o homem e o búfalo, evidenciando o papel do vaqueiro marajoara e sua observação do comportamento animal, que resultou no desenvolvimento da Luta Marajoara. Essa prática corporal, carregada de força, resistência e tradição, tornou-se um dos alicerces da obra, transformando-se em matéria poética para a cena.
O espetáculo foi contemplado pelo Prêmio Pesquisa e Experimentação Artística da Fundação Cultural do Pará (SECULT – Governo do Pará) em 2017, possibilitando um aprofundamento na investigação cênica. Além do impacto artístico e cultural, Carabao: a força que vem do oriente marcou um momento significativo em minha trajetória, sendo a primeira obra que dirigi, reafirmando meu compromisso com a arte como um espaço de diálogo entre memória, história e criação.
Horto - 2017
A obra abordava, de forma sensível e poética, o ato de cultivar, cuidar e compreender as relações sutis que sustentam um espaço vivo. Explorando com profundidade as interações do cotidiano, ressaltava a importância de cada gesto, escolha e atitude dos cuidadores na preservação e no florescimento do ambiente do horto.
Por meio de uma narrativa envolvente e de uma abordagem coreográfica detalhada, Horto transcendia a simples representação do cultivo da terra para evidenciar a complexidade das conexões humanas e naturais que se entrelaçam nesse processo. No espaço cênico, a dança se tornava metáfora do cuidado contínuo, do tempo dedicado e da delicada harmonia necessária para manter um ecossistema interdependente. Cada movimento simbolizava a relação entre o ser humano e o espaço que habita, reforçando a ideia de que cultivar não se resume a plantar, mas implica presença, atenção e compromisso com o crescimento e a transformação.
Assim, Horto não apenas ilustrava o ato de cuidar, mas também convidava o público a refletir sobre os processos de construção e manutenção da vida, seja em um jardim, em uma comunidade ou em qualquer espaço onde as relações se tornam essenciais para a existência coletiva.
De Volta ao Jardim - 2018
De Volta ao Jardim desvelou uma narrativa sensorial tecida na interação entre dois corpos em cena, transitando por um fluxo contínuo de dualidades: efêmero e perene, concreto e etéreo, íntimo e coletivo. O espetáculo, concebido como uma experiência imersiva, teve direção do Prof. Dr. Lindemberg Monteiro e da Profª Drª Mayrla Andrade, que conduziram os Habitantes-Criadores em uma jornada de descobertas sensíveis, permeadas por camadas de significação poética.
A dramaturgia corporal da obra ancorou-se na materialidade do espaço, configurando um jardim simbólico onde os Habitantes-Criadores teciam relações orgânicas entre si e com o ambiente. Corpo, Espaço e Tempo se entrelaçavam em um jogo fluido, no qual movimentos emergiam do encontro, do toque, do afastamento e da ressonância entre presenças tangíveis e intangíveis. Essa tessitura cênica evocava memórias, narrativas pessoais e coletivas, ampliando as possibilidades de experiência sensível.
Além de seu caráter estético e investigativo, De Volta ao Jardim ganhou destaque no cenário artístico paraense ao ser contemplado com o Prêmio de Pesquisa e Experimentação Artística do Programa SEIVA 2018, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (SECULT) do Governo do Pará. Esse reconhecimento reafirmou a relevância do projeto como uma proposta inovadora dentro da cena contemporânea, evidenciando seu potencial como espaço de experimentação e reflexão sobre os atravessamentos entre dança, performatividade e identidade territorial.
Fios da Memória - 2019
O espetáculo Fios da Memória (2019) marcou de forma simbólica e significativa a celebração dos 15 anos da coreobiografia dos Habitantes-Criadores da Ribalta Companhia de Dança. Concebido como uma obra-homenagem, o espetáculo transcendeu a mera comemoração de uma trajetória artística, transformando-se em uma tessitura cênica onde vivências, afetos e percursos individuais e coletivos se entrelaçavam. A narrativa dançada resgatou memórias e reafirmou a potência da companhia no cenário artístico de Ananindeua e região.
Por meio de uma composição coreográfica sensível e detalhada, Fios da Memória se apresentou como um convite sensorial e reflexivo ao público. Os espectadores foram conduzidos por um percurso que revisitava a história da Ribalta Companhia de Dança, explorando o corpo, o movimento e a expressividade singular de seus Habitantes-Criadores. Cada gesto, deslocamento e escolha estética carregava não apenas um rigor técnico e artístico, mas também uma carga emotiva e histórica, ecoando os desafios, conquistas e sonhos que impulsionaram a companhia ao longo de uma década e meia de existência.
Habitante-Criadora - 2023
O espetáculo Habitante Criadora (2023) representou um marco na trajetória da Ribalta Companhia de Dança, sendo a primeira obra solo da diretora artística e pesquisadora Profª Drª Mayrla Andrade. Com uma abordagem sensível e profundamente enraizada em sua história pessoal e profissional, a obra revelou múltiplas camadas da vida dançante da artista, entrelaçando suas experiências no universo da dança com suas vivências humanas e afetivas.
Um dos aspectos mais marcantes do espetáculo foi a intensa relação entre família e dança, explorada com riqueza de detalhes e nuances. A obra ressignificou memórias e experiências, evidenciando como a trajetória de vida da artista se tece por meio do movimento, da cena e da emoção. Desafios, conquistas e afetos se transformaram em material poético, compondo uma narrativa coreográfica que reverberava tanto no plano pessoal quanto no coletivo.
Além de seu valor artístico e autobiográfico, Habitante Criadora também recebeu reconhecimento institucional ao ser contemplado pelo Edital de Incentivo à Arte e Cultura da Fundação Cultural do Pará – SECULT – Governo do Estado do Pará. Esse apoio foi essencial para a concretização do projeto, permitindo que a obra não apenas celebrasse a jornada da criadora, mas também contribuísse para a valorização da dança contemporânea no estado.
Reminiscências - 2023
O espetáculo Reminiscências (2023) teceu uma narrativa sensorial e envolvente, centrada nas memórias dos Habitantes-Criadores e em suas profundas correlações com os signos que permeiam suas existências. A obra se configurou como um mergulho nas camadas do tempo, onde lembranças inscritas nos corpos, nos gestos e nos espaços se manifestavam em alternâncias fluídas, revelando a complexidade, a beleza e a profundidade das reminiscências que habitam a alma.
Por meio de uma sucessão de cenas poéticas e emotivas, o espetáculo evocou fragmentos de vidas entrelaçadas, compondo um mosaico de experiências individuais e coletivas que se cruzavam e se ressignificavam no espaço cênico. O jogo entre memória e presença se materializou na corporeidade dos intérpretes, que, ao transformar em movimento as marcas e os rastros deixados pelo tempo, trouxeram à cena um diálogo contínuo entre passado e presente.
20 Indícios Sobre o Corpo - 2024
20 Indícios Sobre o Corpo se configura como um entrelaçamento de percursos comunicantes, onde a dança se manifesta como um ato de habitar e ser habitado. O corpo, além de conduzir a partitura cênica, torna-se a principal fonte de leitura desse habitar, desvelando uma narrativa sensível e pulsante que se constrói em diálogo com seus próprios indícios.
No início da obra, os corpos emergem envolvidos por um invólucro de plástico bolha, inseridos em dobras invisíveis onde os eixos se cruzam e revelam o centro dessa experiência – "o lugar do coração" –, um espaço que pulsa nas forças duais da vida, expandindo-se e retraindo-se em ritmos orgânicos. Esse pulsar gera fôlegos transversais, entrelaçando pele, ossos e espaços, instaurando uma dinâmica contínua de transformação.
Mais do que um espetáculo, 20 Indícios Sobre o Corpo é uma obra comemorativa que celebra os 20 anos da Ribalta Companhia de Dança, ressoando memórias e ressignificando trajetórias. A criação se ancora nas inspirações e rastros deixados por obras anteriores, como Florescer, Reminiscências, Retratações, Religare e Horto, tecendo um diálogo atemporal entre passado, presente e futuro. Essas linhas de habitação se condensam e reverberam na frase dita em cena: "Sou Habitante... mais um", reforçando a potência do coletivo na construção de um corpo que carrega saberes, fazeres e experiências vividas.
Os de 50 - 2024
A poética Os de 50 se desdobra como um fio sensível que entrelaça tempo, memória e corpo, tecendo um tecido afetivo que revela as camadas de existência de um homem ao longo de suas décadas de habitação. O espetáculo atravessa territórios íntimos e coletivos, onde as cenas transitam entre o onírico e o real, corporificando ausências e presenças que moldam a trajetória desse ser em constante (re)construção.
As histórias de vida, como fios que conectam passado e presente, ativam passagens para um portal de memórias no qual o tempo se dobra, permitindo que reminiscências se traduzam em ações performáticas. A cena, então, se expande para além do visível, tornando-se um território onde gestos e narrativas se entrelaçam em uma dramaturgia pessoal e pulsante, concebida pelo habitante-criador, Prof. Dr. Lindemberg Monteiro.
Com uma abordagem que atravessa corporeidade e subjetividade, Os de 50 não se limita a ser apenas um espetáculo, mas se apresenta como um convite para uma experiência sensorial e emocional. Nele, os espectadores são conduzidos a refletir sobre suas próprias paisagens internas e afetivas, entrelaçando suas memórias à poética da cena.
Este espetáculo foi contemplado pelo Edital Dança da Lei Paulo Gustavo 2023, uma iniciativa da Secretaria de Cultura de Ananindeua, reafirmando sua relevância artística e cultural no cenário da dança contemporânea.
O Anjo: no tempo/espaço a dois - 2025
A obra "O Anjo: no tempo/espaço a dois" mergulha em uma dramaturgia sensível que explora a travessia do espaço-tempo entre dois Habitante-Criadores — o homem (Lindemberg Monteiro) e o anjo (Mayrla Andrade). Essa dupla transita por dimensões corporais densas, pulsantes, onde gestos se tornam vestígios de memória e o corpo, um território de escavação poética.
A cena se constrói como um rito de presença e escuta, onde registros e imagens corporais emergem como fragmentos de vidas ancestrais e imaginadas. O movimento se faz linguagem e narrativa, desenhando paisagens íntimas entre o agora e o que foi, o visível e o intangível. A obra dialoga com a trilha de criações anteriores, como "Os de 50" e "E agora?", formando uma tríade coreográfica que investiga os atravessamentos do tempo e os desdobramentos da memória no corpo contemporâneo.
"O Anjo: no tempo/espaço a dois" é também um testemunho poético da convivência entre presenças distintas, onde o humano e o etéreo se entrelaçam em cumplicidade, abrindo frestas para outras formas de existir, habitar e criar.
Realizada no contexto da dança contemporânea e contemplada pela Lei da Política Nacional Aldir Blanc – Ananindeua/Pará – 2024, a obra reforça o compromisso com as políticas públicas de fomento à arte e à cultura, ampliando vozes e corpos que dançam, narram e resistem por meio do gesto criador.